domingo, 20 de março de 2011

As aparelhagens são um patrimônio cultural?

As aparelhagens são um patrimônio cultural?

Projeto de lei que declara o brega como patrimônio cultural do Pará divide opiniões
Diário do Pará

Projeto de lei que declara o brega como patrimônio cultural do Pará divide opiniõesSe o projeto de lei nº 130/2008, que institui as aparelhagens e seus símbolos como patrimônio cultural e artístico do Pará, for sancionado nas próximas semanas pela Assembléia Legislativa do Estado, algo que muita gente tem dificuldade de admitir será reconhecido oficialmente: o brega faz parte da cultura paraense. O passo inicial para este processo já foi dado. A proposta foi aprovada em primeira instância pelos legisladores na terça-feira, 11. Agora precisa passar por uma segunda votação, programada para daqui a três sessões e, se tudo sair como planejado, segue para a assinatura da governadora Ana Júlia Carepa. Mas essa não será uma tarefa simples. O projeto desde já enfrenta duras críticas entre os próprios deputados. Tanto que está passando por reformulações: foi firmado um acordo entre os parlamentares para substituir no texto oficial o termo “aparelhagens” por “ritmo brega” para o processo de tombamento. A mudança pode ter apaziguado temporariamente os ânimos da oposição, mas não tira o autor do projeto, o deputado Carlos Bordalo (PT), de uma sinuca de bico: a falta de clareza do que ele está defendendo. “Não se fala de aparelhagem sem tecnomelody, e nem de tecnomelody sem aparelhagem”, afirma Elias Carvalho, dono das aparelhagens Superpop e Pop Saudade, do bairro do Guamá.
As aparelhagens podem ser definidas de forma simples quanto à função: um equipamento de som autônomo que faz a sonorização dos bailes de brega.Desde seu surgimento, na década de 1950, as aparelhagens sempre desempenharam o papel de divulgadoras de música mais ao gosto popular em festas de vizinhanças, como nos antigos cabarés e gafieiras da cidade.
As festas de brega surgiram como algo indissociável desse movimento musical, como afirma o historiador paraense Antônio Costa, no livro “Festa na Cidade: O Circuito Bregueiro de Belém do Pará” (2009, Eduepa). De acordo com a pesquisa, as aparelhagens são um elo fundamental entre os artistas e o público, uma espécie de “trio elétrico paraense”. Elas se espalham por Belém e compõe uma rede em diversos bairros da periferia. É o universo que identifica o brega tipicamente paraense. “Ninguém pode negar que o brega se transformou em um grande fenômeno cultural de massa. Ao longo dos anos, as aparelhagens foram se constituindo em canalizadores de multidões. Não é só uma festa; faz parte da identidade dessa cultura. Mas a resistência é grande. As aparelhagens têm uma imagem muito negativa”, explica o deputado Carlos Bordallo.(...)